Nesse espaço vamos falar um pouquinho sobre o nascimento da Underground Open Bar...

Nas longínquas terras do Velho Oeste Paulista, urge de uma emancipação de Campos Novos do Paranapanema a cidadela de Acis, alterada por decreto para Assis e conhecida toscamente como “a cidade dos três S’s”. Também é referenciada carinhosamente pelos jovens oriundos da década de 90 como “Ax”.
Uma afiliada de TV no interior de São Paulo possuía um projeto de promo/chamadas institucionais das cidades de sua cobertura. Lembro com carinho do slogan: “Assis, a cidade que abre mão da modernidade”.
Péssimo, né?! Obviamente que no ano seguinte corrigiram: “Assis, cidade [insira qualquer elogio superficial e/ou genérico], SEM ABRIR MÃO DA MODERNIDADE”.
Sempre usei isso como gracejo para dissertar sobre minha terra-mãe. Minha terra-mãe porquê sempre me senti mais assisense do que brasileiro. A vida ali gira de uma forma muito peculiar. Cada cidadezinha nesse país tem sua particularidade, seu bucolismo e seu ocultismo. Assis não é diferente. Talvez as suas contradições sejam o motivo deste tórrido amor. Tenho licença poética para reprovar, depreciar e glosar desta cidadela. Você ai do outro lado?! Jamais.
Afinal, Assis é terra-mãe. Dos músicos Tony Bellotto e Fauzi Beydon, da poetisa Ledusha Spinardi, do goleiro Paulo Victor, do artista plástico Alemão, da atriz .
Assis também acolheu Josef Mengele, foi palco de assassinatos brutais e constantemente aparece nos noticiários por alguma falcatrua, por personagens deploráveis ou por uma grande apreensão de drogas.
Essa introdução é terrível - e eu tenho consciência disso. Mas um evento sempre acontece em algum lugar (mesmo que subjetivamente).
Na Assis dos primórdios de 2010, tradição e modernização são uma grande contradição (esse slogan talvez funcionasse melhor para afiliada…). A cidade até possuía espaços de eventos como clubes, discotecas (sim, discoteca), uma festança aqui e uma bagunça ali mas, no geral, não tinha nada.
N A D A.
Não existiam eventos para a maior faixa etária da cidade na época: os jovens.
Você tinha os perversos aniversários de debutantes, os impiedosos casamentos e os sangrentos Bailes do Hawaii (estamos falando do interior paulista, a frágil virilidade pulsa em forma de violência em todos esses eventos).
Se você não faz parte de um determinado círculo íntimo ou de uma determinada elite social e econômica assisense, talvez você seja persona non grata. Ou só persona non’invitata.
Com essa tamanha infinidade de opções de lazer para esse determinado público tão desejoso e desesperado por entretenimento, nasceu a Underground.
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Essa “gravidez” planejada e almejada veio através de uma brincadeira boba, mas também gostosa.
Nós não tínhamos dinheiro, nós não tínhamos diversão e nós não tínhamos ambição.
Mas nós tínhamos os jovens.
Ou melhor dizendo: nós tínhamos um punhado de gente sem ter o que fazer e avidos por programas nos fins de semana assisenses. Como juntar essas pessoas, entediadas e macambúzias, querendo beber seus bons drinks (de gosto muito duvidoso) e encontrar seus objetos de desejo, em um universo cheio de amor, aventura e magia?! E com um fator importante: pagando pouco.
A Underground começou com dez pessoas, no máximo, na “Chácara do Tio Mané”. O Tio Mané é Manoel Justo, pai do João Guilherme Justo, meu melhor amigo de infância: amigos de maternidade, amigos da escola, amigos das presepadas, amigos da vida adulta (um pouco menos hoje, já que não me chamou para ser o padrinho do filho dele…). Em um vórtex temporal, a “Chácara do Tio Mané” começou a ser chamada de “Chácara do Joãozinho”, afinal, chegou um momento que o Tio Mané já não dava conta de administrar nem presenciar a bagunça.
E assim, de repente, eram trinta pessoas.
Mais um final de semana, cinquenta pessoas.
Em um aniversário/despedida, cem pessoas.
Mais uma festa, cento e cinquenta pessoas.
Antes da coisa ficar séria, é importante trazer um fato: nesse período, nunca visamos lucro. Inclusive, nunca lucramos. A maior parte de nós vinha da classe média. Uns um pouquinho mais alta, outros um pouquinho mais baixa. O nosso intuito era apenas bancar os nossos custos, mas geralmente rolava um prejuízo “invisível”: tempo & combustível.
Nesses trinta e um anos de existência frequentando diversos tipos de eventos, preceitos básicos não são incorporados por grandes produtoras do Brasil e mundo afora: um evento é um contrato. E dos mais simples: te vendo x, você recebe x. Sendo assim, se fosse necessário sair no prejuízo, nós sairíamos. Sempre demos um jeito de cumprir nosso contrato. Afinal, nós éramos um grupo de amigos em franca expansão. Custear nossa presença era nosso "lucro", mas se precisasse abdicar dele, não seria um problema.
Em 2016, nós cansamos um pouco do formato dos últimos sete anos. Conciliar trabalho, estudos e distância era tarefa árdua. O final de semana não durava mais três dias. Entretenimento etílico no máximo por 6 horas - e olhe lá.
Já que o pique não é mais o mesmo, a realidade é dura, o boleto é um vencedor nato… qual a possibilidade de ganhar um "cascalho" nessa brincadeira?!​
A nossa primeira festa de fato foi uma revolução no condado. Evento para trezentas e cinquenta pessoas, no cruel frio assisense (um combatente da Batalha do Bulge teria congelado), com quedas de energia, muita fita isolante e catuaba aos montes: sucesso.​
A cidadela de Assis queria saber: o que é a Underground Open Bar?
​Por um motivo muito nobre, te convido a conhecer assisenses, presentes e não presentes. Mais do que ouvir de mim ou qualquer pessoa envolvida no processo de produção, ouvir do assisense nato é delicioso. Agrada gregos e troianos ao mesmo sabor de chocar troianos e gregos.
Essa festa catapultou o "nome" da Underground, transformando aquele evento despretensioso no nosso divisor de águas! E, sem exageros, nos eventos da cidade.

Democrático e acessível, a Underground possibilitou a coexistência entre diferentes. ​A Underground Open Bar teve cinco edições, entre 2016 e 2019. Encerramos as atividades, em 2020 no ano da pandemia (até ensaiamos um retorno, mas a verdade verdadeira é que a gente já não aguentava mais...).
Deixamos para trás as dores musculares, as hérnias de disco, as crises de ansiedade, gente chata e pidona ("rola um convite no precin?!"). Mas fizemos amigos, fortalecemos nossos laços, amadurecemos, aprendemos e nos divertimos... como nos divertimos!​
Recebemos 16.750 pessoas.​
Servimos 36.850 litros de cerveja/chopp.​
Propiciamos 837.500 beijos na boca (aguardando os dados da Polícia Militar para confirmar).​
E claro: encerramos essa bela história com um total de 0 brigas.​
Meu eterno amor e agradecimento para os envolvidos: Ana Uliana, Amália Sismeiro, Bruna Pereira, Dênis Fernando, Edgar Rodrigues, Fellipe Sismeiro, Filipe Néspolo, Fernanda Néspolo, Gustavo Mendes, Hanny Setton, Isadora Cintra, Marcos Holmo, Marina Felipe, Maria Sussel, Murilo Toledo, William Marques e tantos outros!​
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Beijinho, sigamos. Com muito amor e poesia!